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quinta-feira, 21 de julho de 2011

Corrupção

Ardente mentira, esse filho bastardo arrancado de mim em um momento de lapso da consciência, nova e ainda fraca toma conta de seu criador e depois se rasteja a procura de súditos que a possam sustentar; e quanto mais os encontra, mais cresce se tornando cada vez mais forte e sedutora até entrelaçar em seus dedos e tomar em seus braços inúmeras pobres almas.

Até estas então sucumbirem aos seus desejos, tomando sua forma, a incorporando. E uma vez dentro deles, penetra suas camadas sem cortesia alguma, apenas toma conta do espaço em que um dia existiu uma essência e espalha suas semente e ramos, cria seus filhos.

Filhos que se tornam cada vez mais sujos e com garras cada vez mais pegajosas a ponto de possuir tamanha força que aos olhos de muitos supera a imaculada verdade. Ah esta, pobre injustiçada. Tão poucos a dão espaço para crescer e se tornar forte, e tantos querem a corromper e sujar sua alva e pura carne. Sua luz brilha tão forte e intensamente, porém invisível aos olhos muitos por estarem cegos pela sedutora e negra mentira.

Carol.

Sinto muito.

Não estou aqui para julgar ninguém, não cabe a mim isso e sinto pena de quem um dia se atreveu a pensar que o podia.

Esse ser tão errado, erra e se suja mais ainda ao cogitar que pode listar os defeitos do próximo se colocando então em elevada posição.

Não existem degraus entre o rei e o escravo, ambos apenas humanos errantes de carne e osso, nem mais sorte ou monos valor. Afinal, quem é o louco que escolheria por vontade própria carregar o fardo de tantas mortes e lutas, de terras banhadas por jovem sangue inocente em seu nome?

Carol.

Muitas palavras que já morreram terão um segundo nascimento, e cairão muitas das que agora gozam das honras, se assim o quiser o uso, em cujas mãos está o arbítrio, o direito e a lei da fala.

-Horácio, Ars poética, vv. 70 et seqq.